sexta-feira, setembro 29, 2006

Ed Wood - 1994

Uma homenagem ao pior diretor de todos os tempos, o longa-metragem de 127 minutos tem algumas características que o destaca entre o resto da filmografia de Tim Burton. Além do óbvio, ser o único em preto-e-branco, ele é o único que trabalha com personagens diretamente inspirados em pessoas do mundo real, narrando de forma cômica a biografia do diretor Ed Wood.


Johnny Depp interpreta o lendário diretor, criador de obras bastante conhecidas do público de cinema lado B. Wood se tornou famoso após a sua morte pela qualidade de seus filmes: todos muito mal produzidos, com histórias de terror que arrancaram mais gargalhadas do que gritos. A interpretação de Depp merece atenção especial, um Wood caricato, expressivo, com um lado inocente e sonhador. O Ed de Burton realmente acredita ser revolucionário e incompreendido. Em alguns de seus discursos, ele mostra sua paixão pelo cinema e sua crença na sua contribuição à sétima arte, chega a se comparar a Orson Welles, seu maior ídolo.

Martin Landau interpreta o papel de Bela Lugosi, estrela da maior parte dos filmes de Wood. Depois de interpretar Drácula, a carreira de Bela se tornou decadente e uma das poucas pessoas que lhe deu emprego foi Ed Wood, o que fez com que os dois se tornassem grandes amigos. Essa relação produz diálogos interessantes sobre a relação da fama com a realização pessoal, a decadência de um indivíduo que um dia foi um sucesso e foi esquecido.


Dolores Fuller (Sarah Jessica Parker), Criswell (Jeffrey Jones), Bunny Breckinridge (Bill Murray) e Vampira (Lisa Marie) são alguns dos exemplos das pessoas que compunham o convívio de Wood e se tornaram peças importantes na produção e vida do diretor. Cada um deles passa por um drama específico, sempre relacionado com o desejo da fama e o tratamento recebido por eles no mundo de Hollywood, quase sempre como produtos descartáveis. Dolores, especificamente, representa a ânsia de se manter as aparências em um mundo ditado pela imagem.


Tratar Ed Wood como simplesmente um filme biográfico seria injusto (muitos críticos consideram este o melhor filme da carreira de Burton), o filme mostra um conjunto de personagens (um tanto bizarros) excluídos do mundo hollywoodiano por fugirem dos padrões considerados normais pelos estúdios.

É interessante ressaltar o fato de Tim Burton ser, na realidade, um fã dos filmes de Wood. Estes filmes fizeram parte da infância e formação de Tim Burton como espectador de cinema e, por mais ‘pobres’ que as produções possam ser, elas de alguma maneira colaboraram na formação criativa de Burton.


Ed Wood – Ficha Técnica

Uma distribuição Touchstone
Direção: Tim Burton
Música: Howard Shore
Edição: Chris Lebenzon
Direção de Fotografia: Stefan Czapsky
Direção de Arte: Okowita
Figurino: Colleen Atwood
História: Baseado em livro de Rudolph Grey, Nightmare of Ecstasy
Roteiro: Scott Alexander e Larry Karaszewski
Produção: Tim Burton e Denise Di Novi
Produção Executiva: Michael Lehmann
Co-produtor: Michael Flynn
Ano: 1994


Alguns sites sobre o filme:

Ed Wood at IMDB
Ed Wood at Collective
Ed Wood – Adoro Cinema (português)
El Criticon (espanhol)

quarta-feira, setembro 27, 2006

Batman, O Retorno - 1992

O quinto longa-metragem de Burton é a continuação do grande sucesso de 1989. A seqüência da história do herói dos quadrinhos foi capaz de causar mais polêmica que a primeira, mas, em contraponto, Burton teve mais liberdade de criação e produção que no filme anterior. Devido ao sucesso financeiro do primeiro filme, o estúdio deu passe livre para Burton executar o filme da maneira que achasse melhor, ganhando também a função de produtor do filme.


O segundo filme da série, de 126 min, introduz um vilão muito conhecido pelos fãs de h.q., o Pingüim. Nas ilustrações dos quadrinhos, o Pingüim lembra muito mais um senhor de classe em seu smoking do que o asqueroso personagem interpretado por Danny DeVitto. O Pingüim de 1992 foi criado a partir de uma ilustração que Burton deu a Danny, um desenho de um garoto gordinho, vestindo um smoking e sem dedos. Foi com esse presente que Tim convidou o ator para representar um dos papéis mais marcantes de sua carreira. Além de uma fantasia pesada que dificultava seus movimentos, o ator também teve que passar várias horas todos os dias nos trailers de maquiagem para ganhar uma feição pálida, com olheiras gigantes e um nariz pontudo que lembra um bico. Praticamente irreconhecível, ele ainda teve que expelir um tipo de gosma azul durante várias cenas no filme, criando uma aparência repugnante. Além das modificações visuais, o Pingüim de Burton ganhou uma introdução na história que explica um pouco de sua condição psicológica, sendo um garoto ‘diferente’ que foi abandonado pelos pais e criado por pingüins nos esgotos da cidade. Por mais absurda que essa explicação seja, se tratando de Batman ela acaba dando uma certa simpatia ao vilão.



Diferente do primeiro filme, Batman Returns trabalha com dois vilões. A história da Mulher-Gato sempre foi muito controversa mesmo nos quadrinhos, ela nunca foi realmente definida como uma vilã ou uma companheira perfeita para o homem-morcego. Essa dualidade do personagem é apresentada no filme, enquanto Selina Kyle e Bruce Wayne participam de um jogo de sedução, a Mulher-Gato e Batman tentam se matar. A instabilidade emocional de Selina Kyle é um dos pontos altos da interpretação de Michele Pffeifer que, segundo Burton, é uma profissional impressionante. O diretor comentou bastante, em uma entrevista, sobre a cena em que Michele literalmente coloca um pássaro vivo em sua boca e continua a atuar para que a cena saia perfeita.



O papel de Selina Kyle criou um episódio cômico nos estúdios antes do início das filmagens. Sean Young, a atriz que havia sido escalada para interpretar o papel de Vicki Vale no primeiro filme (sofreu um acidente e foi substituída por Kim Basinger), apareceu no escritório dos produtores usando uma fantasia de gato e dizendo que o papel era dela. Mesmo assim, a atriz não ganhou nem uma ponta no filme (rs).


Já Michael Keaton (com a interpretação de Batman garantida pelo diretor) foi criticado, mais uma vez, por uma interpretação ofuscada pelos vilões da trama. Entretanto, Keaton mostra um herói ainda menos benevolente. Para os fãs de Bob Kane, a idéia de Batman sendo capaz de matar um capanga ou um vilão vai contra os princípios do herói. Contra seus princípios ou não, o Batman de Burton não parece se importar com segundas chances e, em sua primeira aparição no filme, ele já trata de incinerar alguns dos membros da gangue que estão destruindo a cidade. Mas ele não é tão cruel assim, na seqüência final temos exemplo disso (não vou entrar em detalhes).

Muitos fãs reclamaram de modificações na história de Bob Kane, mas, mais uma vez, foi um sucesso de bilheteria. Mesmo com tantas reclamações e críticas, após o lançamento das outras seqüências (Batman Eternamente - 1995 e Batman e Robin – 1997), ficou claro que os melhores filmes da série seriam mesmo os de Burton.



Batman, O Retorno – Ficha Técnica

Uma distribuição Warner Brothers
Baseado em revistas publicadas pela DC Comics Inc.
Direção: Tim Burton
Música: Danny Elfman (incluindo performance de Siouxie and the Banshees)
Edição: Bob Badami e Chris Lebenzon
Direção de Fotografia: Stefan Czapsky
Direção de Arte: Rick Heinrichs
Figurino: Bob Ringwood e Mary Vogt
História: Sam Hamm e Daniel Waters baseado em personagens de Bob Kane
Roteiro: Sam Hamm e Daniel Waters
Produção: Tim Burton e Denise Di Novi
Produção Executiva: Benjamin Melniker, Michael E. Uslan, Jon Peters e Peter Guber
Co-produtor: Larry Franco
Ano: 1992


Alguns sites sobre o filme:

Batman Returns IMDB
Batman Returns at Collective
Review Soundtrack Batman Returns
The Script
Batman O Retorno em Adorocinema (português)
Batman O Retorno – Omelete (português)

segunda-feira, setembro 25, 2006

Edward Mãos de Tesoura - 1990

Continuando a seqüência da filmografia de Burton, agora é a vez de “Edward Mãos de Tesoura” (Edward Scissorhands) de 1990. Apesar de ter se tornado um clássico da sessão da tarde, o filme não deixa nada a desejar. A história é um conto que Burton criou ainda na adolescência para ilustrar uma incapacidade de interação com o mundo, isso é representado em um personagem que não pode tocar nada, quem dirá pessoas. O filme é rico para análises em diversos segmentos (psicologia, sociologia, antropologia e, é claro, no estudo do cinema), e talvez, depois este blog terá algumas das análises feitas sobre ele no projeto experimental sobre Burton, mas por enquanto só uma breve exposição.



Edward Scissorhands trata da vida de um dos personagens mais estranhos do mundo de Tim Burton. Edward, interpretado por Johnny Depp, é resultado das experiências de um cientista que morre antes de terminar a sua obra, deixando o personagem incompleto com tesouras no lugar de mãos. Seu criador (Vincent Price) é a única referência de mundo e de convivência em sociedade que ele possui, tendo sido seu único tutor no que diz respeito ao ensino de valores e formas de conduta, tais como regras de etiqueta, cultura geral e formas de interação em ocasiões sociais. Porém, apesar destas aulas, Edward nunca tinha tido a chance de colocá-las em prática, até que é levado ao convívio dos moradores de Suburbia. É a partir daí que a história se desenrola e o espectador passa a se envolver com aquele indivíduo que é uma versão muito mais pura e inocente do monstro de Frankenstein.


O filme passeia por elementos de referência gótica, brinca com o “American Way Of Life” e carrega uma crítica social intensa que, apesar de seus 16 anos, pode facilmente ser considerado atual. Edward sofre, ri, aprende, muda, se apaixona, ou seja, o filme tem todos os ingredientes comuns de um filme hollywoodiano, mas não tem nada de comum, muito menos o final que não é nada feliz.
Isso tudo acontece em 105 minutos que são, de fato, a resposta dada para a pergunta: de onde vem a neve? Mas esse detalhe é esquecido completamente durante a história envolvente de Edward.


Vale a pena destacar também que o filme marca o início da relação de Burton com Johnny Depp, já muito falado aqui neste blog. Pessoalmente, admiro a capacidade do ator em transmitir com o olhar o crescimento do personagem no decorrer da história. O olhar de Edward no início da trama é completamente infantil, curioso e assustado. Nas seqüências finais é um olhar bem diferente: mais maduro, preocupado e triste.



Sessão da tarde ou não, Edward Mãos de Tesoura está na minha lista de favoritos.


Edward Mãos de Tesoura – Ficha Técnica

Uma distribuição Warner Brothers
Direção: Tim Burton
Música: Danny Elfman
Edição: Richard Halsey
Direção de Fotografia: Stefan Czapsky
História: Tim Burton e Caroline Thompson
Roteiro: Caroline Thompson
Figurino: Colleen Atwood
Produção: Denise Di Novi e Tim Burton
Produção Executiva: Richard Hashimoto
Ano: 1990


Alguns sites sobre o filme e o personagem Batman:

Edward Scissorhands
Edward at Tim Burton Dream Site
Edward at The Collective
Rotten Tomatoes
Edweird Scissorhands
Adoro Cinema: Edward Mãos de Tesoura
Cinemotion